Luciana Branco
14.02.2024

Caixa de ferramentas

Imagino que cada um aqui tem uma série de receitas para os males físicos que nos visitam vez ou outra. Dor de garganta, cabeça, costas. Dor de barriga. E também imagino que cada um de nós tem umas soluções prontas para problemas triviais em casa: a lâmpada que queimou, o computador que deu pau, a internet…

E para o que é invisível, temos o que preparado? 

Por conta de questões complexas envolvendo familiares, fiquei bem abatida nos primeiros dias do feriado… Como ando nessa expansão do sentir (e isso vale para os sentimentos gostosos e os incômodos), uma tristeza das bravas me pegou em cheio. De um jeito inédito. Naquele incômodo, pude acessar aspectos de uma tristeza paralisante. Da qual sabia (e sentia) que não poderia simplesmente fugir. Não é assim que tenho vivido.

Como busco viver nesse “experimento de mim mesma”, quis experimentar o que precisava sem disfarces. Havia um choro que não chorava, um sono que não dormia, uma fome sem vontade.

Entre o transmutar e o disfarçar há uma linha muito tênue, dinâmica e singular. A cada dia, podemos estar mais ou menos dispostas a esses limites. Respeitá-los é fundamental.

Senti até entender que já poderia ajudar aquele sentimento a tomar seu rumo. Água que precisa fluir e depois de dar significado aquela dor, é preciso agir conscientemente pela vida… sempre ela. E entendi que, mesmo sem ter pensado nisso antes, venho criando uma caixa de ferramentas emocional. 

Busquei os amigos, alguns para conversar, outros para passear. 

Entendi que a comida deveria ser pouca pois meu corpo precisa digerir emoções e isso custa energia. Comidas de alma.

Desliguei a música. Eu precisava escutar o que estava querendo me falar baixinho.

Percebi que deveria fugir dos alcoólicos que, por mais que num primeiro momento pudessem me dar prazer, poderiam depois amplificar a tristeza.

Tomei coragem e fui me exercitar. 

Consegui chorar.

E assim, como as nuvens passam, a tristeza também passou. Sem passar em vão. Por conta dela, pude dialogar com camadas ainda mais profundas em mim e, importante, entendi que para as dores invisíveis, também precisamos ter à mão uma caixa de ferramentas.

Quais são suas ferramentas?